sexta-feira, 22 de maio de 2020

Elementos da análise do discurso


Texto base: "Elementos da análise do discurso" (FIORIN, José Luiz, 2006)[1]
O texto pode ser abordado de dois pontos de vista complementares. De um lado, podem-se analisar os mecanismos sintáxicos e semânticos responsáveis pela produção de sentido e de outro, pode-se compreender o discurso como objeto cultural, produzido a partir de certas condicionantes históricas em relação dialógica com os outros textos.
O poema "Meus oito anos", de Casemiro de Abreu e "Na rua do sabão" de Manuel Bandeira, tem em comum o tema "infância". A configuração discursiva desses dois poemas é a infância e o núcleo de sentido é o início da vida humana. O Casemiro trabalha no texto com o idealizado, enquanto Manuel traz as verdades essenciais da vida (é dinâmica, tem descobertas).
A isotopia (continuidade) precisa prevalecer no texto para permitir aos leitores uma interpretação uniforme. Na obra de Graciliano Ramos "Vidas secas", o escritor usa o termo “retirante” e depois a retoma como “vaqueiro”, há um contraste, mas está dentro da temática geral do texto. Quando se trata de um texto "aberto" admite mais de um sentido, ou seja, a polissemia, a partir dos indicadores.
Para garantir a coerência semântica é preciso que haja reiteração (repetição) da redundância, retomada de ideias; um exemplo é a fábula “A cigarra e a formiga”, a primeira dúvida é: se trata de animais ou homens? Homens. As palavras possuem traços humanos, e a repetição desses sentidos humanos faz com que nós cheguemos a essa conclusão.
Outros fatores existentes é a metáfora, a troca de uma palavra pela outra (cruzamento, intersecção), e a metonímia, uma palavra por outra (continuidade, inclusão). Elas são abordadas de duas formas: a primeira é retórica e a segunda na análise de discurso, que há uma quebra dessa relação. Veja o exemplo abaixo:

“Boião de leite
que a Noite leva
com mãos de treva
pra não sei quem beber.
e que, embora levado
muito devagarinho,
vai derramando pingos brancos
pelo caminho.”
(Cassiano Ricardo – Lua cheia. In: Poesias completas. Rio de Janeiro, José Olympio, 1957, p.135).

“Boião de leite” representa a lua; “vai derramando pingos brancos”, os pingos são as estrelas; "que a Noite leva", o movimento da lua no céu à medida que a noite avança.

"Os feridos com grita o Céu feriam,
Fazendo de seu sangue bruto lago,
Onde outros meios mortos se afogavam,
Quando do ferro as vidas escapavam."
(Os Lusíadas por Luís Vaz de Camões. Canto Terceiro).

Em Camões, ele trás em um trecho: “Quando do ferro as vidas escapavam”, inclui todos os tipos de ferramentas que são usadas para matar (Lança espada, faca, etc.).
Outros exemplos nos são dados no dia a dia: (a) “Você é uma princesa”, mas não em seu sentido aristocrático, e sim a IMPORTÂNCIA. (b) “Os seus olhos são como estrelas”, há um cruzamento, logo, é uma METÁFORA. (c) “Isso que é atacante” inclui alguém em específico (Neymar), logo, é uma METONÍMIA.
Temática ou Figurativa são modos de combinações das figuras (que fazem parte das frases). Um texto temático apresenta uma dissertação, onde pode aparecer uma imagem genérica ou não. É um texto que não tem a pretensão de convencer o leitor. O texto figurativo analisa as condições humanas e acontecimentos, utiliza-se de termos concretos e sempre apresenta um tema. A organização interfere na semântica da obra.
Existem algumas maneiras de organização, pois, isso interfere diretamente na semântica do texto. A primeira é a Antítese, apresenta contrastes diferentes, dois temas em um texto. Palavras que se opõem na frase, dando a ela maior expressividade na transmissão da mensagem. Ex.: "Toda guerra finaliza por onde devia ter começado: a paz" ​​​​​​​(temos guerra e paz). O segundo é o Oximoro, onde há contrastes iguais. Ex.: "É um contentamento descontente" (contentamento e descontente). Terceiro, a Prosopopeia, são qualificações ou funções. Ator semântico que coloca outro aspecto que não está presente. Ex.: “Os vales puderam ouvir", atribui sentido de ouvir, que é a personificação, traço humano em algo não humano.



[1] FIORIN, José Luiz. Elementos de análise do discurso. [S.l: s.n.], 2006.

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